Ana-b92 reviewed A very easy death by Simone de Beauvoir (Pantheon modern writers series)
Entre o adeus e a memória – Minha leitura de Uma morte muito suave de Simone de Beauvoir
4 stars
Ler Uma morte muito suave foi, para mim, uma experiência de rara intensidade. Não se trata de uma ficção, mas de um relato íntimo em que Simone de Beauvoir narra os últimos dias de vida de sua mãe, Françoise, hospitalizada após uma queda. Logo nas primeiras páginas senti a tensão entre a objetividade da descrição clínica e a subjetividade de uma filha confrontada com a fragilidade da mulher que lhe deu a vida.
O que mais me marcou foi a ambivalência dos sentimentos de Beauvoir: ao mesmo tempo compaixão e estranhamento, proximidade e distância. Enquanto acompanhava o tratamento, as visitas e os diálogos entrecortados, eu percebia como a autora revivia memórias de infância, revisitando também as tensões da relação mãe e filha. Foi impossível para mim não pensar em minha própria experiência com a doença e a perda de entes queridos.
A escrita é precisa, sem ornamentos, mas …
Ler Uma morte muito suave foi, para mim, uma experiência de rara intensidade. Não se trata de uma ficção, mas de um relato íntimo em que Simone de Beauvoir narra os últimos dias de vida de sua mãe, Françoise, hospitalizada após uma queda. Logo nas primeiras páginas senti a tensão entre a objetividade da descrição clínica e a subjetividade de uma filha confrontada com a fragilidade da mulher que lhe deu a vida.
O que mais me marcou foi a ambivalência dos sentimentos de Beauvoir: ao mesmo tempo compaixão e estranhamento, proximidade e distância. Enquanto acompanhava o tratamento, as visitas e os diálogos entrecortados, eu percebia como a autora revivia memórias de infância, revisitando também as tensões da relação mãe e filha. Foi impossível para mim não pensar em minha própria experiência com a doença e a perda de entes queridos.
A escrita é precisa, sem ornamentos, mas justamente por isso tão comovente. Beauvoir não procura transformar a morte em algo heroico ou transcendente; ela a mostra como um processo concreto, feito de dor, espera, resignação e, paradoxalmente, ternura.
Ao terminar, fiquei com uma sensação dupla: de tristeza pelo inevitável fim, mas também de gratidão pela lucidez da autora, que transforma uma experiência devastadora em reflexão compartilhada. Uma morte muito suave me ensinou que a morte, embora sempre dura, pode ser vivida com dignidade e registrada com amor.