Um nome que reza dentro do silêncio
4 stars
Ao ler New Name, entrei no fluxo de Asle, pintor solitário à beira do mar, e me vi andando com ele pelos dias curtos do inverno, entre a estrada, o ateliê e o hospital. Tudo acontece como uma oração respirada: frases longas, repetições, pequenas variações que iluminam. Asle pensa na esposa morta, na culpa e na graça; visita o outro Asle, espécie de duplo ferido; conversa com Åsleik, amigo de estrada e de silêncio. A paisagem é quase um sacrário: neve, água escura, luz oblíqua. A arte e a fé ...
Lendo, senti o tempo afrouxar. Jon Fosse me obriga a desacelerar, a escutar as marés dentro das palavras. Às vezes me impacientei; depois percebi que a própria impaciência era tema do livro: a resistência do coração moderno diante do gesto de rezar. No trânsito entre lembrança e presente, o romance pergunta o que pode o amor quando a …
Ao ler New Name, entrei no fluxo de Asle, pintor solitário à beira do mar, e me vi andando com ele pelos dias curtos do inverno, entre a estrada, o ateliê e o hospital. Tudo acontece como uma oração respirada: frases longas, repetições, pequenas variações que iluminam. Asle pensa na esposa morta, na culpa e na graça; visita o outro Asle, espécie de duplo ferido; conversa com Åsleik, amigo de estrada e de silêncio. A paisagem é quase um sacrário: neve, água escura, luz oblíqua. A arte e a fé ...
Lendo, senti o tempo afrouxar. Jon Fosse me obriga a desacelerar, a escutar as marés dentro das palavras. Às vezes me impacientei; depois percebi que a própria impaciência era tema do livro: a resistência do coração moderno diante do gesto de rezar. No trânsito entre lembrança e presente, o romance pergunta o que pode o amor quando a memória falha e o corpo cede. E aqui, a compaixão não é espetáculo, é um cuidado teimoso: levar alguém ao hospital, repetir um nome, estar junto na vigília. Essa música lenta me mudou, profundamente.
New Name não oferece clímax; oferece presença, mesmo. Saí com a sensação de ter aprendido um ritmo novo, próximo do rosário que Asle carrega no bolso e do X que insiste na tela: um sinal e uma ferida. No fim, fiquei com uma paz áspera, como quem aceita que recomeçar talvez seja, antes de tudo, chamar-se de novo pelo próprio nome.
