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Eu não gosto de dizer coisas ruins sobre livros e histórias. Penso que não tenho o direito de falar sobre como personagens podem ser mal escritos, ou planos de exposição sejam impostos. Sinto que posso discordar, mas fazer um juízo de valor dessa maneira é desagradável pra mim.

Por isso, infelizmente, sinto que preciso ser desagradável aqui. O livro foi mal escrito. O enredo ora era apressadamente apresentado, ora era arrastado por discussões emocionais e filosóficas que não acrescentavam realmente ao livro. Trinta por cento do livro poderia ser descartado.

A personagem Quara, que era de uma rigidez e antipatia que beiravam a loucura em [b:Xenocide|8648|Xenocide (Ender's Saga, #3)|Orson Scott Card|https://i.gr-assets.com/images/S/compressed.photo.goodreads.com/books/1386924577l/8648.SY75.jpg|1150594] se torna simplesmente odiosa. Somos submetidos a momentos e mais momentos de ataques gratuitos que em dado momento são direcionados a nós, pois tem como único objetivo aparente simular emoções. É impossível pensar nela como a doce e intrigante personagem de [b:Orador dos Mortos|11560139|Orador dos Mortos (Ender's Saga, #2)|Orson Scott Card|https://i.gr-assets.com/images/S/compressed.photo.goodreads.com/books/1308369717l/11560139.SY75.jpg|2327777].

Mantenho o que disse anteriormente sobre [b:Xenocidio. Ender III|7755761|Xenocidio. Ender III (Ender's Saga, #3)|Orson Scott Card|https://i.gr-assets.com/images/S/compressed.photo.goodreads.com/books/1266579066l/7755761.SY75.jpg|1150594] Peter e Val não precisam existir. Ender ter criado auto imagens dele era perfeitamente aceitável. Val só é mulher para satisfazer a possibilidade de Jane (que não tem razão para se ver como fêmea, já que é uma espécie de criação assexuada em que esse papel não faz sentido) em seu corpo. .

E ao entrarmos no assunto dessas auto imagens a questão se torna mais complicada. o relacionamento entre Peter e Xi Wangmu foi o apaixonar-se mais sem sentido de minha memória recente, acontece porque o autor quer, pois não faz sentido de outro jeito.

Não consigo descrever de maneira orgânica tudo o que me irritou no relacionamento de Miro e Val... a linguagem abusiva, misógina, sexista, as discussões filosóficas sem sentido e o ignorar questões reais que não foram resolvidas (suplantar a personalidade da Val pela da Jane é assassinato, pura e simplesmente, da mulher que Miro, supostamente amava, ainda que não compreendamos bem a razão) .

Isso na minha opinião são os erros. Mas há outros incômodos. Elementos que admito que tem seu valor, mas que me parecem forçados. A própria estrutura de colonização de mundos por nacionalidade, mundos brasileiros, japoneses, chineses, escandinavos e dai por diante, implica dizer que o registro biológico e geográfico de grupos humanos a três mil anos atrás e um planeta entre mais de cem e várias outras colônias, seria determinante. Isso é forçado na minha opinião, mas entendo que seria aceitável.

Já o machismo, misoginia, apologia a violência contra mulheres, sexismo e racismo. São deploráveis, são traços do autor e acabam tomando um papel muito forte na obra dele. Isso incômoda demais.

O final é piegas, irremediavelmente piegas.

Contudo há pontos positivos. Gosto de como os pequeninos são apresentados em boa parte do tempo, três entre cada quatro momentos que aparecem nos lembram do gênio do autor. Gosto da ideia de um pensamento influenciando de maneira obscura a realidade política mas não de que uma pessoa seja responsável por isso.

Enfim, já escrevi demais. Não consigo mais ler nada do [a:Orson Scott Card|589|Orson Scott Card|https://images.gr-assets.com/authors/1294099952p2/589.jpg]. A história de Ender e a genialidade que vi em [b:O Jogo do Exterminador|6461454|O Jogo do Exterminador (Ender's Saga, #1)|Orson Scott Card|https://i.gr-assets.com/images/S/compressed.photo.goodreads.com/books/1333658193l/6461454.SY75.jpg|2422333] e [b:Orador dos Mortos|11560139|Orador dos Mortos (Ender's Saga, #2)|Orson Scott Card|https://i.gr-assets.com/images/S/compressed.photo.goodreads.com/books/1308369717l/11560139.SY75.jpg|2327777] em trouxeram até aqui. Mas não consigo mais, tudo se tornou truncando e ruim. Mas não lamento ter seguido essa jornada. Acho que me identifico com o Lauro (Olhado). O caminho está ruim, mas não apaga a beleza que teve até chegar aqui.

Então... O livro é muito longo. E não me refiro ao número de páginas, que em alguma edições chega a quase 600, é possível ser longo escrevendo 10 páginas.

O grande problema é que certas explicações se tornam tediosas e desnecessárias. As divagações metafísicas, presentes em quase todos os personagens, não são exercícios de pensamento, são afirmações curtas de "se situação A é aceita, logo situação B é decorrente" seguida da repetição do que é a situação A e do que é a situação B por páginas e páginas.

Um dos maiores problemas pra mim é Quara, ela é claramente insana. Ele defende de maneira irracional a extinção de duas espécies, incluindo a espécie humana, em defesa de uma forma de vida que pode ou não ser inteligente.

Também me incomoda muito o tratamento dado a Novinha. Ela desaparece e reaparece na história com quase múltiplas personalidade quando é conveniente. Também não sei como me sinto com o aparecimento do Peter e da Jovem Val, entendo que são expressões do subconsciente do Ender, mas manifestá-los na forma e psique de um irmão e irmã... talvez aceitasse melhor se fossem manifestações do próprio Ender.

Ainda interpreto como sofrível a maneira como as personagens femininas são tratadas. Em geral são um poço de irracionalidade e raiva até que uma interferência "salvadora" seja inserida. Contudo tenho que admitir que achei uma representação melhor do que em [b:O Jogo do Exterminador|6461454|O Jogo do Exterminador (Ender's Saga, #1)|Orson Scott Card|https://i.gr-assets.com/images/S/compressed.photo.goodreads.com/books/1333658193l/6461454._SY75_.jpg|2422333] e [b:Orador dos Mortos|11560139|Orador dos Mortos (Ender's Saga, #2)|Orson Scott Card|https://i.gr-assets.com/images/S/compressed.photo.goodreads.com/books/1308369717l/11560139._SY75_.jpg|2327777].

Contudo ele é claramente um gênio. A forma como a cultura do Mundo do Caminho é apresentada com as revelações sobre os godspoken, ou a forma como os conceitos da física teórica e a consideração e resolução do desafio da física experimental foram muito boas e criativas. A representação da fé, tanto da católica quando da taoísta também foram criativas e inspiradas.

Mas ainda assim precisava diminuir a metafísica.

3,5/5

Esse não é um livro de vampiros e ao mesmo tempo é um dos melhores livros de vampiros que já li. Essas afirmações contraditórias fazem sentido nesse livro de Octavia Butler.

Não é um livro em que vampiros são homens brancos, sedutores e enfileireiram conquistas, não é um livro de predadores desalmados. Na realidade a protagonista inverte o que se pensa sobre vampiros. É uma menina, pequena, negra e sem memória. Uma das suas principais características, assim como a de seu povo é perceber sentimentos, histórias. Por isso em vários momentos são descritos como tendo uma relação mutualista com os humanos.
Da mesma forma, a discussão sobre gênero e racismo presente é sublime. O modo como a autora trabalha os conceitos de espécie e a aceitação de algo nefasto como o racismo por ter vindo de uma nobre família, é um retrato vivaz de nós mesmos.

Contudo o ritmo da narrativa é lento, entre descrições de marcas de carro e de refeições feitas os personagens vampiros, a exceção da peotagonista, ficam em arquétipos. A amnésia é um clichê já usado, e aqui ele é usado da mesma maneira que em outros lugares. E a relação com um ser que aparenta ser uma criança é estranha demais. Em vários momentos ela é descrita como sendo desejável por outros vampiros, ainda que ela seja uma criança. Durante o julgamento inclusive ela busca se valer disso. E por mais que entenda que a personagem tem 53 anos e uma capacidade de dar prazer e conquistar, isso não muda o fato de que ela tem a aparência de uma criança e todas as suas relações positivas são sexuais.

Enfim, infelizmente não vai ter uma continuação, mas adoraria.

tldr: pedofilia vampírica, política vampírica, racismo vampírico.