Marte reviewed Estação Carandiru by Antônio Drauzio Varella
Sociologia em seu estado mais cru
5 stars
Poucos médicos que eu conheço merecem alguma menção especial em relação ao seu trabalho ou sua atuação política. Drauzio Varella certamente é um deles. Drauzio escreveu alguns livros sobre sua atuação em presídios, especialmente no Carandiru [Casa de Detenção de São Paulo], um presídio na cidade de São Paulo desativado em 2002. Estação Carandiru, claro, é um desses livros.
Comprei esse livro numa visita aleatória a um sebo e foi uma ótima aquisição. Estação Carandiru foi lançado em 1999, antes mesmo do fechamento da Casa de Detenção, e tem as marcas temporais (não somente físicas, no caso da minha impressão de 2000) de 25 anos atrás. Por exemplo, ao tratar das travestis detentas, Drauzio mistura os pronomes femininos e masculinos. Hoje em dia, esse erro não passaria batido, e eu não acho que Drauzio o cometeria de qualquer forma.
O livro não toma um partido explícito de nenhuma das partes …
Poucos médicos que eu conheço merecem alguma menção especial em relação ao seu trabalho ou sua atuação política. Drauzio Varella certamente é um deles. Drauzio escreveu alguns livros sobre sua atuação em presídios, especialmente no Carandiru [Casa de Detenção de São Paulo], um presídio na cidade de São Paulo desativado em 2002. Estação Carandiru, claro, é um desses livros.
Comprei esse livro numa visita aleatória a um sebo e foi uma ótima aquisição. Estação Carandiru foi lançado em 1999, antes mesmo do fechamento da Casa de Detenção, e tem as marcas temporais (não somente físicas, no caso da minha impressão de 2000) de 25 anos atrás. Por exemplo, ao tratar das travestis detentas, Drauzio mistura os pronomes femininos e masculinos. Hoje em dia, esse erro não passaria batido, e eu não acho que Drauzio o cometeria de qualquer forma.
O livro não toma um partido explícito de nenhuma das partes envolvidas: nem funcionários, nem diretoria, nem presidiários. Drauzio tem um relacionamento bom com todas as partes. Entretanto, ao escolher trabalhar no presídio, o doutor acaba se tornando parte do amálgama social da prisão, que é majoritariamente composta por presidiários (na época, cerca de 7 mil pessoas), portanto, suas histórias são majoritárias no livro.
Para mim, poucos lugares são tão cruciais para entender relações sociais, sociologia e ciência política quanto um presídio, desde que você realmente esteja integrado dentro. O livro de Drauzio mostra isso com excelência. Aqui, há muitos vilões, mas também muitos vilões injustiçados em diversos momentos, todos vítimas da extrema desigualdade social do Brasil, inclusive funcionários e diretoria. Isso não significa que não sejam pessoas com agência, o que torna a análise complexa e deve-se tomar cuidado ao apontar vereditos com maniqueísmo.
É um livro triste, por causa das condições caóticas e desumanas do presídio, mas também altamente anedótico e que me deixou muito curiosa lendo. Ler histórias reais de pessoas reais é uma das razões pelas quais eu gosto de não-ficção. E esse livro entrega muito bem isso.
É um excerto sociológico, histórico, tudo. Vale muito a leitura.