ruimaio reviewed Amor líquido by Zygmunt Bauman
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4 stars
É incrível a forma como Zygmunt Bauman aborda e interliga diferentes temas, cada um de extrema importância e relevante para a construção e manutenção da sociedade líquida moderna.
Ainda toca mais na ferida, porque explica aprofundadamente as alterações que têm acontecido ao nível de relacionamentos humanos. Posso, sem dúvida, dizer que refleti e consegui identificar alturas em que contribuí para a "fragilidade dos laços humanos", nomeadamente por assumir que as pessoas são descartáveis, retirando-lhes assim o seu valor intrínseco. E acho que é muito isso que acontece, também porque convém a muita gente. Já que consumimos tudo, por que não consumir também as pessoas e descartá-las quando a "função" que serviam em nosso benefício deixou de ser suficiente ou de existir? Caso contrário, seria necessário trabalhar nesse relacionamento, o que implica compromisso, sacrifício e, consequentemente, a noção de que "precisamos" daquela pessoa na nossa vida e, mais ainda, de que …
É incrível a forma como Zygmunt Bauman aborda e interliga diferentes temas, cada um de extrema importância e relevante para a construção e manutenção da sociedade líquida moderna.
Ainda toca mais na ferida, porque explica aprofundadamente as alterações que têm acontecido ao nível de relacionamentos humanos. Posso, sem dúvida, dizer que refleti e consegui identificar alturas em que contribuí para a "fragilidade dos laços humanos", nomeadamente por assumir que as pessoas são descartáveis, retirando-lhes assim o seu valor intrínseco. E acho que é muito isso que acontece, também porque convém a muita gente. Já que consumimos tudo, por que não consumir também as pessoas e descartá-las quando a "função" que serviam em nosso benefício deixou de ser suficiente ou de existir? Caso contrário, seria necessário trabalhar nesse relacionamento, o que implica compromisso, sacrifício e, consequentemente, a noção de que "precisamos" daquela pessoa na nossa vida e, mais ainda, de que a queremos ter na nossa vida. E isso pode ser muito assustador, porque gera incerteza e inquietação. Sendo assim, é muito menos incerto o deixar todas as portas abertas, não nos comprometermos seriamente com nada nem ninguém, e por aí fora. Claro que cada um sabe da sua vida, mas passar uma vida sem criar laços profundos, sem fazer sacrifícios, sem temer a perda do amor de alguém, não me parece realmente ser uma vida dedicada e aproveitada ao seu expoente máximo.
Nesse sentido, ouvi recentemente uma música dos Travis, que diz:
"And I wonder as I walk away
Did I ever love it all the way
Did I open up my heart and say it like I mean it
From the end right to the start
From seeing to believing" ('a ghost')
Depois são abordados outros temas, também relacionados, como a disposição atual das cidades, a individualidade nas mesmas, precisamente como forma de não criar "amarras"... E termina com a situação dos migrantes e refugiados, a sua situação de invisibilidade, e a indiferença a que são remetidos, porque acabam por não pertencer realmente a este mundo - não lhes é dado esse direito tão básico e fundamental de existir.
Vale mesmo a pena ler este livro. Os pensamentos do autor são fluidos e partilhados de uma forma bastante prática. Para quem é do Porto, pode requisitar esta obra na Biblioteca Municipal do Porto (provavelmente também noutras bibliotecas por este país fora, espero).