Review of 'Fahrenheit 451 de Ray Bradbury' on 'Goodreads'
5 stars
É incrível como uma obra tem impactos diferentes em momentos também distintos de nossa vida. Não que da primeira vez que tenha lido Bradbury não tenha achado a obra uma das maiores peças da literatura mundial, pelo contrário, a 12-15 anos atrás minha visão limitada e adolescente de mundo não sequer me dava capacidade para ver o que mais tinha ali, tal qual Montag antes de conhecer Clarisse. Mas é que talvez eu tenha irremediavelmente mudado desde então e esta obra me caiu com ainda mais peso e significado.
O mundo mudou, desde que foi escrito e desde que li a primeira vez. Talvez o maior erro de Bradbury esteja no tamanho da tela que nos prende, não são telas enormes que tomam paredes inteiras e que são repetidas em 3 dimensões, mas sim pequenos espelhos negros na palma da mão que nos dão acesso diário a feeds pré-selecionados e recheados de conteúdo que foi escolhido com base no 'nosso' consumo.
Ray previu com exatidão o quanto a ciência seria desprezada - principalmente em tempos tão duros de de pandemia, o quanto as faculdades humanas e o quanto o conhecimento seria subjulgado e tratado como inútil por uma parcela dominadora da população, bem como uma máquina que quer as pessoas sem senso crítico, tal qual uma máquina de ódio que quer MITOS governando enquanto a moenda humana rola solta nas bases.
Fahrenheit 451 vem como um livro necessário para qualquer pessoa que tenha no mínimo mantido suas convicções e enxergado além da superfície comum, além do Whatsapp, além da fake news. Como não é possível comparar as queimas de livros na história à perseguição que as pessoas tem tido por apenas pensar diferente da massa movida pelo ódio atual? Como não associar tudo isso à sandices de Olavo de Carvalho e afins? E por fim, como não associar os questionamentos de Guy Montag respondidos pelo capitão Beatty ao revisionismo histórico que tem sido tão ostensivamente praticado?
Por fim, o livro é de tirar o folego e tem a capacidade de ser atual mesmo sendo escrito em 1953. Se você ainda não leu, o faça - e nas palavras do poeta alemão Heinrich Heine eu finalizo:
"Aqueles que começarem a queimar livros, logo acabarão queimando pessoas."