Nic reviewed A Estirpe by Carla Maliandi
A Estirpe
"ESTIRPE (sf)*
(obsoleto) Parte da planta que se desenvolve dentro da terra; raiz"
"EXTIRPAR (vtd)*
Arrancar uma planta puxando-a pela raiz."
Iniciei "A estirpe", da argentina Carla Maliandi, pensando que fosse um livro de proposta (e execução) simples.
Ana é uma escritora que trabalhava em um livro sobre uma história de sua família. Até que, numa festa, um globo (um daqueles de discoteca) cai bem em cima da sua cabeça. Ana acorda num hospital, sem lembranças de coisas que havia vivido antes.
Narrativas que exploram amnésia e outros transtornos de memória... já ouviu alguma antes? Bom, não seria a primeira ou última vez que se estaria diante de uma. Mantive um interesse no livro, mas achava que já sabia o que esperar.
Entra a astúcia de Maliandi: as histórias mais interessantes costumam ser aquelas que nos surpreendem de alguma forma. Um elemento crucial da surpresa é sermos movidos do lugar …
"ESTIRPE (sf)*
(obsoleto) Parte da planta que se desenvolve dentro da terra; raiz"
"EXTIRPAR (vtd)*
Arrancar uma planta puxando-a pela raiz."
Iniciei "A estirpe", da argentina Carla Maliandi, pensando que fosse um livro de proposta (e execução) simples.
Ana é uma escritora que trabalhava em um livro sobre uma história de sua família. Até que, numa festa, um globo (um daqueles de discoteca) cai bem em cima da sua cabeça. Ana acorda num hospital, sem lembranças de coisas que havia vivido antes.
Narrativas que exploram amnésia e outros transtornos de memória... já ouviu alguma antes? Bom, não seria a primeira ou última vez que se estaria diante de uma. Mantive um interesse no livro, mas achava que já sabia o que esperar.
Entra a astúcia de Maliandi: as histórias mais interessantes costumam ser aquelas que nos surpreendem de alguma forma. Um elemento crucial da surpresa é sermos movidos do lugar que nos é habitual. As páginas desse livro iam sendo viradas, e eu ia sendo deslocada do meu chão. O que parecia ser tão opaco vai desvelando suas camadas.
"A estirpe" circunda pelos sentidos de palavras-chave como "memória" e "familiaridade". Somos conduzidos ao estranhamento do familiar. A memória tem tanto um sentido individual como coletivo. O esquecimento pode ser ocorrência natural, mas também pode ser artifício -- construído por instituições com o poder de selecionar o que vemos como História.
Por trás das cortinas da História contada pelos "vencedores", as palavras daqueles que a escrevem estão calcadas nas palavras que foram silenciadas. Línguas e culturas que não apenas cessaram de existir, mas foram extirpadas. Detrás das cortinas, a violência.
Gerações depois, alguém se senta em frente ao papel, à máquina, ao teclado. Onde ela está sentada?
*Significados retirados do Michaelis Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa (2023)