Tony Almeida reviewed O Futuro by Naomi Alderman
O Futuro
4 stars
Num mundo cada vez mais dependente da tecnologia, onde a inteligência artificial se insinua em cada canto e a crise ambiental se agrava a olhos vistos, O Futuro de Naomi Alderman oferece-nos uma ficção científica inquietantemente próxima da realidade. Não, não se trata de um documentário, mas a imagem da nossa sociedade refletica num espelho distorcido. Alderman pinta um cenário que parece decalcado do nosso tempo: um retrato especulativo, mas estranhamente plausível.
Nesta narrativa, o poder global está concentrado nas mãos de três gigantes tecnológicos, cada um liderado por um magnata visionário e implacável. Perante a iminência de um colapso civilizacional, estes oligarcas preparam-se para sobreviver ao apocalipse que eles próprios ajudaram, em certa medida, a precipitar. É neste contexto que se entrelaçam os caminhos de Martha Einkorn, a filha dissidente de um líder de culto, que acaba por se tornar braço direito de um desses magnatas, e de …
Num mundo cada vez mais dependente da tecnologia, onde a inteligência artificial se insinua em cada canto e a crise ambiental se agrava a olhos vistos, O Futuro de Naomi Alderman oferece-nos uma ficção científica inquietantemente próxima da realidade. Não, não se trata de um documentário, mas a imagem da nossa sociedade refletica num espelho distorcido. Alderman pinta um cenário que parece decalcado do nosso tempo: um retrato especulativo, mas estranhamente plausível.
Nesta narrativa, o poder global está concentrado nas mãos de três gigantes tecnológicos, cada um liderado por um magnata visionário e implacável. Perante a iminência de um colapso civilizacional, estes oligarcas preparam-se para sobreviver ao apocalipse que eles próprios ajudaram, em certa medida, a precipitar. É neste contexto que se entrelaçam os caminhos de Martha Einkorn, a filha dissidente de um líder de culto, que acaba por se tornar braço direito de um desses magnatas, e de Lai Zhen, uma especialista em sobrevivência, perseguida e desconfiada por natureza.
A premissa inicial pode soar familiar: bilionários em fuga perante o fim do mundo. Mas Alderman introduz várias reviravoltas - mais do que uma, na verdade - que desviam a história de um percurso previsível e a levam para um desfecho inesperado. Apesar disso, confesso que fiquei com a sensação de que parte da narrativa manipula deliberadamente as expectativas do leitor. Há revelações tardias que reconfiguram por completo o que julgávamos saber, e embora este tipo de artifício seja frequente em obras de mistério ou suspense, aqui gerou em mim alguma frustração. Em particular, senti que certas decisões tomadas por uma das personagens no último terço da obra colidem com o que tínhamos vindo a conhecer da sua personalidade, criando um certo desalinhamento interno na narrativa.
Se o livro é interessante? É. Trata-se de uma leitura envolvente, provocadora e inteligente, que coloca questões pertinentes sobre o papel das grandes empresas tecnológicas, a vigilância, a desigualdade, e o modo como os mais poderosos continuam a tentar salvar-se apenas a si próprios. No entanto, deixou-me um travo um tanto agridoce.
Recomendo-o a quem aprecia ficção especulativa com substância, crítica social e um toque sombrio.