Ana-b92 reviewed The Memoirs of Elias Canetti by Elias Canetti
Entre vozes, línguas e olhares – Minha travessia pelas memórias de Elias Canetti
4 stars
Ler as memórias de Elias Canetti – A Língua Absolvida, A Tocha na Orelha e O Jogo dos Olhos – foi como acompanhar a formação de uma mente em constante expansão. Cada volume me deu a sensação de estar diante de um mosaico vivo, onde infância, juventude e maturidade se entrelaçam não apenas como recordações pessoais, mas como reflexões sobre cultura, linguagem e identidade.
Em A Língua Absolvida, mergulhei na infância de Canetti, marcada pelo multilinguismo: búlgaro, ladino, alemão, inglês. Senti quase fisicamente a força com que ele percebe as palavras como instrumentos de poder e de pertença. O título nunca me pareceu tão justo: a língua não é apenas comunicação, mas libertação e destino.
Já em A Tocha na Orelha, encontrei um jovem imerso nos debates intelectuais de Viena e Berlim. Aqui, a intensidade do período entre guerras pulsa em cada página. A presença de grandes nomes da literatura …
Ler as memórias de Elias Canetti – A Língua Absolvida, A Tocha na Orelha e O Jogo dos Olhos – foi como acompanhar a formação de uma mente em constante expansão. Cada volume me deu a sensação de estar diante de um mosaico vivo, onde infância, juventude e maturidade se entrelaçam não apenas como recordações pessoais, mas como reflexões sobre cultura, linguagem e identidade.
Em A Língua Absolvida, mergulhei na infância de Canetti, marcada pelo multilinguismo: búlgaro, ladino, alemão, inglês. Senti quase fisicamente a força com que ele percebe as palavras como instrumentos de poder e de pertença. O título nunca me pareceu tão justo: a língua não é apenas comunicação, mas libertação e destino.
Já em A Tocha na Orelha, encontrei um jovem imerso nos debates intelectuais de Viena e Berlim. Aqui, a intensidade do período entre guerras pulsa em cada página. A presença de grandes nomes da literatura e da filosofia me deixou com a sensação de testemunhar, em primeira mão, o nascimento de ideias que ainda hoje ecoam.
Por fim, em O Jogo dos Olhos, Canetti narra encontros marcantes com escritores, artistas e pensadores. O olhar, nesse contexto, é quase uma segunda linguagem, revelando tensões, cumplicidades e até traições silenciosas. Senti que cada retrato humano era também um autorretrato indireto de Canetti, refletindo sua própria inquietude e busca de compreensão.
O que mais me impressionou ao longo da leitura foi a clareza com que Canetti registra a complexidade da experiência humana, sem jamais perder o fio da emoção. Sua escrita é rigorosa, mas também calorosa, feita para guardar não apenas fatos, mas atmosferas e gestos.
Ao fechar o último volume, fiquei com a impressão de ter acompanhado não apenas a vida de um homem, mas a própria história cultural da Europa do século XX. Uma leitura que me deixou transformado, como se eu também tivesse participado desse “jogo de olhos” que atravessa gerações.