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Ana-b92

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Albert Camus: Resistance, rebellion, and death (1995, Vintage International)

Resistance, Rebellion, and Death is a 1960 collection of essays written by Albert Camus and …

Entre a recusa e a esperança – Minha vivência com Resistência, rebelião e morte de Albert Camus

Ler Resistência, rebelião e morte de Albert Camus foi para mim como atravessar um território onde ética e existência se encontram em choque constante. O livro reúne ensaios escritos em diferentes momentos, muitos deles ligados à Segunda Guerra Mundial e às consequências da ocupação nazista. Ao longo das páginas, senti não apenas a força de um pensamento filosófico, mas também o pulsar de uma consciência moral profundamente comprometida com a dignidade humana.

O que mais me impactou foi a clareza com que Camus se recusa a justificar a violência em nome de qualquer ideologia. Ele reconhece a necessidade da resistência contra a tirania, mas ao mesmo tempo insiste que a rebelião deve preservar a humanidade de quem resiste. Essa tensão entre lutar e não se corromper pelo mesmo mal que se combate me fez refletir intensamente sobre os limites da ação política e pessoal.

Os textos sobre a pena de …

En 1821, Johann Christian Woyzeck avait poignardé sa compagne. Souffrant d'hallucinations, "confondant de temps en …

Entre delírio e desespero – Minha leitura de Woyzeck de Georg Büchner

Ler Woyzeck foi como entrar em um pesadelo que não pertence apenas ao protagonista, mas à condição humana em sua forma mais frágil. A peça, inacabada e fragmentada, carrega uma força bruta que me atingiu de imediato. Büchner conta a história de Franz Woyzeck, um soldado simples, pobre, explorado por seus superiores e humilhado pela sociedade. Senti, a cada cena, o peso esmagador da miséria, do desprezo e da falta de escolhas.

O que mais me tocou foi a vulnerabilidade de Woyzeck. Ele é submetido a experiências médicas cruéis, vive em permanente tensão financeira e emocional, e se agarra a uma relação com Marie, que aos poucos se desfaz em traição e desilusão. Esse acúmulo de opressões cria nele um estado de delírio, uma mistura de paranoia e impotência. A tragédia final – o assassinato de Marie – não me pareceu apenas um ato individual, mas a consequência inevitável de …

Bertolt Brecht: The resistible rise of Arturo Ui (2001, Arcade Pub.)

O crime como farsa – Minha leitura de A Resistível Ascensão de Arturo Ui de Bertolt Brecht

Ler A Resistível Ascensão de Arturo Ui foi como assistir a um espelho distorcido da História, onde o riso se mistura com o desconforto. Bertolt Brecht cria uma parábola política em forma de peça teatral, ambientada no mundo dos gângsteres de Chicago, mas que claramente aponta para a ascensão de Adolf Hitler e do nazismo na Alemanha. Desde as primeiras cenas, percebi que não se tratava apenas de uma sátira, mas de uma denúncia: mostrar como a tirania pode crescer em terreno fértil de corrupção, medo e indiferença.

Arturo Ui, o protagonista, começa como um criminoso insignificante, quase ridículo. Aos poucos, por meio da violência, da manipulação e da exploração das fraquezas alheias, ele conquista poder. O que me impressionou foi como Brecht expõe esse processo não como inevitável, mas como resultado de escolhas e cumplicidades. O “resistível” do título é um lembrete doloroso: poderia ter sido evitado.

Enquanto lia, …

Ray Bradbury: The Day It Rained Forever (1992, Penguin Books Canada, Limited)

Quando o tempo se torna poesia – Minha leitura de O Dia em que Choveu para Sempre de Ray Bradbury

No rating

Ler O Dia em que Choveu para Sempre foi para mim como ouvir uma música lenta em uma tarde infinita. A coletânea de contos de Ray Bradbury reúne narrativas que oscilam entre o fantástico, o poético e o profundamente humano. Não são apenas histórias de ficção científica ou fantasia: são parábolas sobre a fragilidade do tempo, a solidão, a memória e os pequenos milagres escondidos na vida cotidiana.

O conto que dá nome ao livro me marcou de forma especial. Três homens solitários, em meio a um deserto árido, recebem a visita de uma mulher que parece trazer a promessa de eternidade. A chuva que cai não é apenas água, mas símbolo de renovação e transcendência. Eu senti, ao ler, como se Bradbury tivesse me lembrado de que a esperança pode brotar mesmo no terreno mais seco.

Em outros contos, encontrei essa mesma mistura de melancolia e encantamento. Bradbury tem …

reviewed Irish journal by Heinrich Böll (Marlboro travel)

Heinrich Böll: Irish journal (1998, Marlboro Press)

Heinrich Böll’s Irish Journal constitutes a work of reflective prose that transcends the conventions of …

Chuva, silêncio e humanidade – Minha travessia por Diário Irlandês de Heinrich Böll

Ler Diário Irlandês de Heinrich Böll foi como acompanhar alguém que caminha devagar, atento a cada detalhe, sem pressa de chegar a lugar nenhum. O livro não é um guia turístico nem um diário no sentido linear; é uma coleção de impressões, fragmentos que, juntos, constroem uma imagem densa e poética da Irlanda dos anos 1950.

O que mais me tocou foi a honestidade de Böll. Ele não romantiza a pobreza que encontra, tampouco transforma a dureza do cotidiano em espetáculo. Pelo contrário: mostra a precariedade, a emigração, a solidão de um povo que luta para sobreviver, mas também a dignidade, a fé e a hospitalidade que resistem em meio à escassez. Eu senti, ao ler, que a Irlanda que ele descreve não é um cenário, mas um organismo vivo – cheio de contradições, tristezas e pequenas alegrias.

Os detalhes simples são os que mais me ficaram: o cheiro do …

reviewed Seize the Day by Saul Bellow (Penguin Classics)

Saul Bellow: Seize the Day (Paperback, 2003, Penguin Books)

Tommy Wilhelm is a man in his mid-forties, temporarily living in the Hotel Gloriana on …

Entre fracasso e redenção silenciosa – Minha leitura de Aproveita o Dia de Saul Bellow

Ler Aproveita o Dia foi como acompanhar alguém durante um único dia que, paradoxalmente, contém uma vida inteira. Saul Bellow nos apresenta Tommy Wilhelm, um homem na casa dos quarenta, afogado em dívidas, desempregado, separado da esposa e, ao mesmo tempo, ainda buscando desesperadamente aprovação – sobretudo a de seu pai, um médico frio e distante.

O romance se passa em Nova York, em poucas horas, mas a densidade é enorme. Eu senti a angústia de Wilhelm a cada página: sua ansiedade, seu senso de fracasso, sua esperança ingênua em negócios duvidosos e promessas vazias. É doloroso porque Bellow não o trata como caricatura, mas como alguém assustadoramente real. Muitas vezes, me vi refletindo sobre minhas próprias inseguranças e sobre como carregamos expectativas que não são só nossas, mas também impostas por outros.

O que me impressionou foi a forma como Bellow escreve – clara, direta, mas cheia de camadas …

Charles Baudelaire: Les  fleurs du mal (1982, Harvester Press)

Entre o perfume e o veneno – Minha imersão em As Flores do Mal de Charles Baudelaire

Ler As Flores do Mal de Charles Baudelaire foi como caminhar por um jardim proibido, onde cada flor guarda um aroma sedutor e, ao mesmo tempo, um espinho oculto. Desde o primeiro poema, senti que Baudelaire não escreve apenas sobre beleza ou dor, mas sobre a tensão constante entre as duas.

A obra percorre temas como amor, morte, tédio, pecado e redenção, sempre com uma linguagem precisa e profundamente sensorial. Há versos que parecem pintar imagens diante dos olhos; outros soam como música, carregada de melancolia e desejo. Em muitos momentos, me vi dividido entre o fascínio e o desconforto, como se estivesse sendo conduzido por um guia que conhece todos os cantos sombrios da alma humana.

O que mais me marcou foi o modo como Baudelaire transforma a decadência em arte. Ele não disfarça o feio, o imoral ou o desesperador; pelo contrário, ele os envolve em ritmo e …

Jane Austen: Persuasion (Paperback, 2007, NuVision Publications)

Persuasion tells the love story of Anne Elliot and Captain Frederick Wentworth, whose sister rents …

Entre arrependimentos e segundas chances – Minha leitura de Persuasão de Jane Austen

Ler Persuasão de Jane Austen foi como ouvir uma melodia suave que, aos poucos, revela notas de melancolia profunda. Anne Elliot, a protagonista, me conquistou pela discrição e pela força silenciosa. Oito anos antes, ela havia sido convencida a recusar o pedido de casamento de Frederick Wentworth, então um jovem oficial sem fortuna. Quando a história começa, Anne já tem 27 anos e vive resignada, cercada por uma família fútil e egocêntrica.

O reencontro com Wentworth, agora rico e respeitado, desperta emoções que ela acreditava adormecidas. Cada diálogo, cada troca de olhares carrega um peso de histórias não vividas. Austen, com sua ironia afiada, expõe o orgulho ferido e as inseguranças, mas também a esperança tímida de reconciliação.

O que mais me tocou foi a maturidade do enredo: não é a paixão impetuosa da juventude, mas o amor paciente, marcado pelo arrependimento e pelo reconhecimento dos próprios erros. A …