Ana-b92 reviewed Farther away by Jonathan Franzen
Cartas da distância: lendo Farther Away com um pássaro no ombro
4 stars
Em Farther Away, encontrei um Jonathan Franzen mais íntimo e vigilante: um escritor que observa o mundo e, ao mesmo tempo, observa a si mesmo observando. Acompanhando suas viagens e lutos, senti o fio que costura os ensaios: a busca por atenção verdadeira em um tempo de distrações fáceis. O texto-título, na ilha de Alejandro Selkirk, liga a solidão de Robinson Crusoé ao luto do amigo escritor; ali, percebi como a paisagem amplia o silêncio e transforma lembrança em rito.
Ao ler sobre pássaros caçados no Mediterrâneo, doeu-me a precisão serena com que Franzen descreve a violência. Sua paixão ornitológica não é hobby, é ética: olhar, nomear, proteger. Em outro ensaio, ele confronta o culto às “curtidas” e opõe amor, exigente, paciente, falho, à gratificação instantânea. Senti-me interpelado: quantas vezes troco risco por validação? A prosa, clara e densa, prefere a longa frase que respira ideias; entretanto, há humor, …
Em Farther Away, encontrei um Jonathan Franzen mais íntimo e vigilante: um escritor que observa o mundo e, ao mesmo tempo, observa a si mesmo observando. Acompanhando suas viagens e lutos, senti o fio que costura os ensaios: a busca por atenção verdadeira em um tempo de distrações fáceis. O texto-título, na ilha de Alejandro Selkirk, liga a solidão de Robinson Crusoé ao luto do amigo escritor; ali, percebi como a paisagem amplia o silêncio e transforma lembrança em rito.
Ao ler sobre pássaros caçados no Mediterrâneo, doeu-me a precisão serena com que Franzen descreve a violência. Sua paixão ornitológica não é hobby, é ética: olhar, nomear, proteger. Em outro ensaio, ele confronta o culto às “curtidas” e opõe amor, exigente, paciente, falho, à gratificação instantânea. Senti-me interpelado: quantas vezes troco risco por validação? A prosa, clara e densa, prefere a longa frase que respira ideias; entretanto, há humor, ironia que abre espaço para compaixão.
O livro discute literatura como compromisso com o real: a ficção não consola, mas organiza a experiência para que possamos suportá-la. Encontrei aqui uma espécie de manual de sobriedade emocional. Quando Franzen escreve sobre amizade, luto e trabalho, reconheci minhas próprias infidelidades de atenção, minhas pequenas fugas. Saí com uma resolução modesta: desacelerar o olhar, cultivar nomes de aves, amar com menos performance.
Farther Away me deixou mais perto de algo essencial: a paciência. Entre ilhas, telas e árvores, o livro insiste que estar presente ainda é a maior ousadia. Aceitei esse convite com gratidão e um desconforto saudável, como quem aprende a escutar o mundo e, de vez em quando, a si mesmo.