Ana-b92 reviewed The Awakening by Kate Chopin by Kate Chopin
Mar ao fundo, voz à frente: meu The Awakening
4 stars
Ao ler The Awakening, encontrei um romance enxuto e luminoso sobre desejo, autonomia e custo social. Edna Pontellier, jovem esposa em Nova Orleans, começa a perceber que vive uma vida herdada, não escolhida. A atmosfera creole, os verões em Grand Isle e a rotina doméstica compõem um cenário hipnótico em que o mar chama e a consciência desperta. Na tradição da Literatura Americana do fim do século XIX, Kate Chopin revela, com elegância e precisão, o conflito entre o eu íntimo e as expectativas de classe, gênero e família, sem panfleto e sem retórica excessiva.
Segui Edna com respeito e espanto. Ao aproximar-se de Robert Lebrun, ao experimentar a própria arte e ao afastar-se dos deveres de esposa exemplar, ela testa limites e aprende a escutar os sinais do corpo. A amizade com Mademoiselle Reisz oferece uma ética rigorosa da liberdade; Adèle Ratignolle encarna o ideal materno celebrado pela sociedade. Entre essas duas figuras tutelares, Edna procura um contorno próprio. O estilo de Chopin é musical e sóbrio: cenas breves, imagens límpidas, silêncios que pesam. Senti o texto avançar como maré, às vezes mansa, às vezes teimosa.
O romance recusa sermões e prefere a observação minuciosa: olhares, objetos e conversas aparentemente neutras revelam a prisão das conveniências. Quando Edna aluga a “pigeon house”, vi uma tentativa concreta de autodefinição, quase um laboratório de si. O encontro com Alcée Arobin adiciona duplicidade, pois prazer e risco surgem juntos. Ao mesmo tempo, a cidade murmura censuras, e o casamento permanece como arquitetura rígida, cheia de corredores estreitos. Tudo aponta para uma verdade difícil: nem toda liberdade encontra abrigo no mundo disponível.
Cheguei ao final com tristeza serena. O mar, figura de chamado e dissolução, acolhe uma decisão que soou, para mim, honesta e terrível. The Awakening recusou o moralismo e me obrigou a encarar perguntas simples e cruciais: o que é escolher por si, e que custo aceitamos pagar por isso? Saí da leitura mais atento ao rumor da água e à coragem silenciosa que, às vezes, só se ouve depois.
