Tony Almeida finished reading Um almoço de negócios em Sintra by Gerrit Komrij
Vou directo ao assunto: não gostei do livro. E antes que comecem a puxar pelas forquilhas e as tochas, ao mesmo tempo que soltam as acusações de “és mais um desses portugueses que não sabem rir-se de si próprio”, posso desde já deixar claro que não é nada disso. Posso não ter gostado do livro, mas há, de facto, algumas citações que são até bastante deliciosas, como, por exemplo, na página 52, “A relação dos portugueses com a natureza deve estar profundamente marcada pelo facto de tê-la a arder.”
Não, o problema não é saber rir-me de mim ou da nossa sociedade, antes pelo contrário. Na verdade, são três problemas. Começa pelo conceito do livro em si e o estilo de escrita (dois problemas, estão a seguir?). Sendo este o primeiro livro que li do Gerrit Komrij, não fiquei propriamente com muita vontade de ler mais (bom, alguns dos livros são de poesia, e, admito, não é bem o meu estilo literário. Vá. A sério. Guardem as forquilhas). Uma escrita muito floreada, indo a lugar nenhum, em que demora imenso tempo para explicar coisas simples, que não carecem de tanto espaço. Há mesmo uma crónica ou outra em que, sinceramente, não entendi o que o autor pretendia. Em poucas palavras, sinceramente não me revi nem no estilo de escrita deste livro, nem na sua estrutura em crónicas biográficas das experiências pelas que Komrij passou pelo facto de ter decidido viver em Portugal. Longe de ser uma narrativa, pelo menos foi assim que o livro me foi apresentado, ele não é mais do que uma série de crónicas, desconexas, em que o autor dispara em direções diferentes, tanto a satirizar alguns aspectos funcionais sociedade portuguesa, alguns neerlandeses (não se esqueçam que agora não são holandeses) e ele próprio. Não digo que não houve um ou outro texto que achei interessante ou divertido, mas, em geral, desiludiu-me.
Finalmente, acho que o livro envelheceu mal. Este livro foi escrito na década de 90 (finais de 90?) do século passado, e acho que há mesmo um texto da década anterior. Se é verdade que o livro satiriza a sociedade de então, fico com a ideia de que muito do que é satirizado não faz sentido atualmente. Obviamente, que podemos ler este livro como um espelho do passado, mas confesso que esperava um livro mais centrado na idiossincrasia de ser português, e não tanto nos procedimentos, porque esses mudam com os tempos.