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Andrei Kurkov: Abelhas cinzentas (Paperback, Portuguese language, 2022, Porto Editora) 4 stars

Ucrânia, região do Donbass, 2017 Pequena Starhorodivka é uma aldeia de apenas três ruas em …

Abelhas Cinzentas

4 stars

Sergey Sergeyich é um simples apicultor que vive em Pequena Starhorodivka, uma pequena aldeia do Donbass, em plena Zona Cinzenta, uma extensa área que separa as forças Ucranianas das forças separatistas. Os habitantes da aldeia, para fugir da guerra, abandonaram a sua terra, ficando apenas o Sergeivich e o seu animigo Pashka.

As condições de vida são duras: não há electricidade e o acesso a alimentos é muito condicionado, sendo que o Pashka ainda vai conseguindo alguns mantimentos junto dos separatistas, pelos quais nutre simpatia.

A grande paixão de Sergeyich está concentrada nas seis colmeias das suas abelhas, pelas quais tem um grande cuidado e preocupação, considerando-as mesmo importantes para o seu bem-estar e saúde. Não é apenas o pólen que elas recolhem e o mel que elas produzem, é também o sono reparador que elas proporcionam quando ele monta a sua cama em cima das colmeias, para sentir-se embalado pela vibração «das centenas de milhares de abelhas debaixo dele.». A cama granjeou alguma fama, tendo mesmo levado o governador do Donbass a experimentar esta cama.

Com a guerra e os contantos bombardeamentos, e com o aproximar do fim do Inverno, Sergeyich decide levar as suas colmeias para outras paragens, mais pacíficas, onde as suas abelhas possam voar livremente para recolher pólen. É com este objetivo que Sergeyich acaba por viajar até a ocupada península da Crimeia. Durante a viagem viu-se em dificuldades, ora porque era visto como um russo em terras ucranianas, ora como um ucraniano em terras russas, trazendo-lhe várias amargos de boca: afinal, Sergeyich é apenas uma pessoa simples, que procura proporcionar as suas abelhas um espaço onde possam voar livremente e fazer o que melhor saber fazer.

Abelhas Cinzentas, escrito ainda antes da invasão russa ao estado soberano da Ucrânia, reflete o que o mais de elementar o ser humano procura: um espaço onde possa viver em paz, que é precisamente o que o Sergeyich procura dar as suas abelhas. Mas mesmo elas, por vezes, podem ter comportamentos mais próximos dos humanos:

Olhou uma vez mais para a entrada da colmeia. As abelhas, regressando a casa com o pólen nas patas, empurravam e davam encontrões umas às outras, cada uma a tentar entrar primeiro. – Oh, vá lá, não façam como as pessoas – repreendeu-as.