Os números que venceram os nomes
4 stars
Até ler este “Os números que venceram os nomes”, eu ainda não tinha lido qualquer obra de Samuel Pimenta, e reconheço que foi uma agradável surpresa. Com alguma imaginação, Samuel Pimenta cria um universo distópico em que a ciência estabelece uma fórmula matemática que comprova a existência de Deus. Deus passa estão a ser identificado por uma expressão numérica e, em consequência, questiona-se a necessidade dos nomes uma vez que estes são “terreno instável, flexível, mutável,” ao contrário dos números que são “rígidos, estáticos, definidores por natureza.” Assim, a sociedade avança para uma abolição do udo de nomes e, com os números “sintetizar as identidades”.
No entanto, esta abordagem imposta pelos governos e autoridades, desumaniza a sociedade. Não são apenas os nomes que são abolidos, mas também toda e qualquer expressão de criatividade, qualquer expressão cultural. Os sentimentos são reprimidos. Coisas como cuidar de uma animal, escrever poesia, ou mesmo contemplar as estrelas podem ser sinais de problemas que as autoridades têm de controlar.
É aqui que entra Um Nove Um Seis, quem vê a sua vida virada de pernas para o ar quando tem o que é descrito como um surto psicótico, e por isso levado para um sanatório. Aí, ele conhece Um Quatro Um Seis, uma pessoa já com alguma idade. Sem desvendar muito mais da narrativa, iremos ver como a relação entre Um Nove Um Seis e Um Quatro Um Seis leva à percepção do primeiro do que a sociedade realmente aprisiona cada ser que a integra,
Livro curto, de leitura rápida, com um estilo que faz lembrar o estilo de José Saramago, com longos parágrafos, em que os diálogos são separados por vírgulas, sendo que, por vezes, a pontuação também cai, foi, como disse, uma agradável surpresa. A construção da personagem principal, Um Nove Um Seis, e como está evolui à medida que vai descobrindo o seu verdadeiro sentido face às verdades que vai enfrentando, faz-nos pensar como todos nós, nesta vida, por vezes deixamos levar-nos apenas pelos números.
Na minha opinião, recomendo a sua leitura.