Tony Almeida reviewed Vernon Subutex 1 by Virginie Despentes (Vernon Subutex, #1)
França contemporânea
3 stars
Admito que este é um daqueles livros que me deixou dividido, com sentimentos bastante ambíguos. Por um lado, não posso dizer que tenha gostado verdadeiramente da leitura, uam vez que houve momentos em que a narrativa me pareceu dispersa, e senti alguma dificuldade em estabelecer empatia com determinadas personagens. No entanto, há algo de magnético na escrita de Virginie Despentes que me impediu de abandoná-lo. A verdade é que, à medida que me aproximava dos capítulos finais, fui sendo progressivamente capturado pelo enredo e pelo destino de Vernon. No final, dei por mim com vontade de continuar para o volume seguinte da trilogia.
É possível que a forma como li o livro, de forma intermitente, sem grande continuidade, tenha contribuído para que a minha experiência não fosse tão envolvente quanto poderia ter sido. Sinto que Vernon Subutex 1 é daqueles romances que exige um certo mergulho contínuo, quase imersivo, para …
Admito que este é um daqueles livros que me deixou dividido, com sentimentos bastante ambíguos. Por um lado, não posso dizer que tenha gostado verdadeiramente da leitura, uam vez que houve momentos em que a narrativa me pareceu dispersa, e senti alguma dificuldade em estabelecer empatia com determinadas personagens. No entanto, há algo de magnético na escrita de Virginie Despentes que me impediu de abandoná-lo. A verdade é que, à medida que me aproximava dos capítulos finais, fui sendo progressivamente capturado pelo enredo e pelo destino de Vernon. No final, dei por mim com vontade de continuar para o volume seguinte da trilogia.
É possível que a forma como li o livro, de forma intermitente, sem grande continuidade, tenha contribuído para que a minha experiência não fosse tão envolvente quanto poderia ter sido. Sinto que Vernon Subutex 1 é daqueles romances que exige um certo mergulho contínuo, quase imersivo, para que o leitor possa absorver plenamente a densidade das personagens e a crítica social que as atravessa.
Despentes tem uma escrita crua, direta, por vezes brutal, mas sempre certeira. É uma autora que não tem medo de expor as fragilidades e contradições da sociedade contemporânea, em especial da França urbana e multicultural. Através de uma galeria de personagens de origens sociais e étnicas variadas, a autora constrói um retrato ácido e multifacetado de uma sociedade em que o sucesso é simultaneamente venerado e inatingível. Essa obsessão pelo êxito, corporizada na figura de Alex Bleach, uma espécie de fantasma que paira sobre todo o romance, funciona como fio condutor das frustrações, esperanças e desilusões das personagens.
Mais do que uma história sobre Vernon, o livro é uma espécie de mapa social da decadência, da exclusão e das transformações de uma geração que viu ruir as promessas do passado. Há algo de muito contemporâneo na forma como Despentes retrata a queda de um homem comum e as redes sociais (tanto virtuais como humanas) que se vão formando à sua volta.
Mesmo não tendo sido uma leitura "fácil" ou inteiramente prazerosa, reconheço-lhe mérito e originalidade. E, talvez justamente por isso, sinto a necessidade de continuar a acompanhar Vernon, não por ele em si, mas pelo mundo que Despentes constrói à sua volta. Um mundo inquietante, desordenado, mas estranhamente real.