Paulo Moreira 🇧🇷 reviewed Vamqueer by M. P. Neves
Procurando ouro, achei diamante
5 stars
Vamqueer foi uma daquelas obras que me surpreenderam mesmo eu sabendo que ficaria surpreso. Os contos utilizam da figura sensual e perigosa do vampiro para dramas LGBT+, que se encaixa muito bem diga-se de passagem. A linha tênue entre o erótico e o terrível, entre entregar-se aos desejos e ser punido por isso, entre morte e prazer está ali presente em cada história.
A escolha dos contos foi a dedo. Temos histórias mais de suspense, como Destinatário: a quem desejar, de Helena Zamparette, usando o cenário frio do sul do Brasil; histórias críticas como Porcelana de Julio Rodrigues, trazendo a violência trans ao mundo vampírico,;histórias profundas (senão mágicas) como Primo Damião de Juna Pedroso, sobre a exclusão dos LGBT+ em comunidades rurais, aqui no nordeste brasileiro; histórias de palavras que oscilam entre a beleza e o horror como Aparição de Andrio Santos, esta no pantanal; e histórias com palavras …
Vamqueer foi uma daquelas obras que me surpreenderam mesmo eu sabendo que ficaria surpreso. Os contos utilizam da figura sensual e perigosa do vampiro para dramas LGBT+, que se encaixa muito bem diga-se de passagem. A linha tênue entre o erótico e o terrível, entre entregar-se aos desejos e ser punido por isso, entre morte e prazer está ali presente em cada história.
A escolha dos contos foi a dedo. Temos histórias mais de suspense, como Destinatário: a quem desejar, de Helena Zamparette, usando o cenário frio do sul do Brasil; histórias críticas como Porcelana de Julio Rodrigues, trazendo a violência trans ao mundo vampírico,;histórias profundas (senão mágicas) como Primo Damião de Juna Pedroso, sobre a exclusão dos LGBT+ em comunidades rurais, aqui no nordeste brasileiro; histórias de palavras que oscilam entre a beleza e o horror como Aparição de Andrio Santos, esta no pantanal; e histórias com palavras sangrentas, góticas e brutais como Sangue de Cordeiro de M. P. Neves.
Essa é uma resenha pessoal, não cabe falar de todos, por isso, falarei apenas dos três que mais me tocaram:
Em terceiro, Sangue de Cordeiro de M. P. Neves: aqui o enredo se passa na brutalidade da inquisição. O autor me surpreendeu mais na riqueza do vocabulário do que nos personagens, usa palavras violentas, sem vergonha de expor o nojento, o macabro, a tortura, em um ritmo visceral que te prende desde a primeira frase. Me lembrou muito o arco da inquisição no mangá Berserk.
Em segundo, sem sombras de dúvidas, Primo Damião, de Juna Pedroso: aqui vale uma observação. Primo Damião não me lembrou tanto o terror, embora use de seus conceitos. A história é mais linda que assustadora, explorando a atração que os vampiros exercem nas pessoas não pela beleza de corpo e da imortalidade, mas pela possibilidade de libertação. A "magia com sombras" que o vampiro usa é tão simples que parece uma brincadeira sem deixar de ser encantadora. O conto se destaca dos outros por não ser tão desesperançoso, assustador, embora ainda seja sombrio. O vampiro é aquela figura excluída nas comunidades distantes, o elefante branco que ninguém quer comentar, uma criatura doída, melancólica. Senti conforto ao terminar, mas também fiquei intrigado com as possibilidades de futuro.
E em primeiro lugar, não tem como não estar aqui, Aparição, de Andrio Santos. Situado no pantanal brasileiro, uma história romântica e de abuso com palavras que lembram poema. Disputa constante entre entregar-se ao pecado e entre querer ser punido (ou precisar ser punido) reviveram na minha mente o barroco. O terror está sempre presente, perseguindo o protagonista, chegando sempre mais perto, ou é o protagonista que está se aproximando. Indo ao encontro do macabro que ama, uma atração tão forte com certeza não é divina e desencadeará terríveis consequências, mas importa?
Vamqueer está aí para quem gosta de leituras de terror ou que curte a figura do vampiro e suas representações, mas você vai escavar mais diamantes ao ler, como o terror social, as críticas religiosas e sociais, e inclusive a alguns comportamentos da comunidade LGBT+. Treze contos para chocar, temer, enojar-se e amar.










