User Profile

Ana-b92

Ana-b92@bookwyrm.social

Joined 3 weeks, 3 days ago

This link opens in a pop-up window

Agatha Christie: Taken at the Flood (AudiobookFormat, 2016, Avon Original, HarperCollins Publishers and Blackstone Audio)

A few weeks after marrying an attractive young widow, Gordon Cloade is tragically killed by …

Segredos, heranças e sombras – Minha experiência com A Morte da Sra. McGinty de Agatha Christie

Ler Taken at the Flood foi, para mim, como entrar em uma casa antiga cheia de portas entreabertas, onde cada gesto parece esconder um enigma. A história começa em um vilarejo inglês logo após a guerra, quando a notícia da morte de Gordon Cloade, milionário e patriarca, desencadeia uma disputa de herança e uma rede de tensões familiares.

O que me prendeu logo de início foi a atmosfera. Agatha Christie tem a habilidade de transformar ambientes aparentemente banais em cenários cheios de mistério. Senti a presença de Poirot quase como a de um maestro, regendo discretamente cada detalhe, deixando-me atento a cada olhar, cada frase interrompida.

O enredo se complica quando surge a viúva de Cloade, cuja presença abala a família inteira. Ao longo das páginas, fui tomado por uma sensação de instabilidade: ninguém parecia confiável, e cada revelação só abria espaço para mais dúvidas. O talento de Christie é …

A reminiscence of a Christmas shared by a seven-year-old boy and a sixtyish childlike woman, …

Natal, distância e descoberta – Minha leitura de Um Natal de Truman Capote

Ler Um Natal de Truman Capote foi para mim como abrir uma caixa guardada há muito tempo, cheia de memórias delicadas e, ao mesmo tempo, doloridas. A narrativa, breve mas intensa, acompanha a experiência do autor quando criança, ao passar um Natal com o pai ausente em Nova Orleans. Logo nas primeiras páginas senti que não estava apenas diante de uma história de infância, mas de um encontro marcado pela estranheza e pela tentativa de aproximação entre dois mundos: o da criança sensível e o do adulto distante.

O que me tocou profundamente foi o contraste entre a expectativa e a realidade. A criança, sonhando com afeto e pertencimento, encontra um homem elegante, preocupado mais com aparências e status social do que com gestos de proximidade verdadeira. As descrições de Capote, sutis e cheias de lirismo, me fizeram sentir o frio de uma cidade diferente, o brilho artificial das festas, …

Elias Canetti: The Memoirs of Elias Canetti (2000, Farrar, Straus and Giroux)

Entre vozes, línguas e olhares – Minha travessia pelas memórias de Elias Canetti

Ler as memórias de Elias Canetti – A Língua Absolvida, A Tocha na Orelha e O Jogo dos Olhos – foi como acompanhar a formação de uma mente em constante expansão. Cada volume me deu a sensação de estar diante de um mosaico vivo, onde infância, juventude e maturidade se entrelaçam não apenas como recordações pessoais, mas como reflexões sobre cultura, linguagem e identidade.

Em A Língua Absolvida, mergulhei na infância de Canetti, marcada pelo multilinguismo: búlgaro, ladino, alemão, inglês. Senti quase fisicamente a força com que ele percebe as palavras como instrumentos de poder e de pertença. O título nunca me pareceu tão justo: a língua não é apenas comunicação, mas libertação e destino.

Já em A Tocha na Orelha, encontrei um jovem imerso nos debates intelectuais de Viena e Berlim. Aqui, a intensidade do período entre guerras pulsa em cada página. A presença de grandes nomes da literatura …

Albert Camus: Resistance, rebellion, and death (1995, Vintage International)

Resistance, Rebellion, and Death is a 1960 collection of essays written by Albert Camus and …

Entre a recusa e a esperança – Minha vivência com Resistência, rebelião e morte de Albert Camus

Ler Resistência, rebelião e morte de Albert Camus foi para mim como atravessar um território onde ética e existência se encontram em choque constante. O livro reúne ensaios escritos em diferentes momentos, muitos deles ligados à Segunda Guerra Mundial e às consequências da ocupação nazista. Ao longo das páginas, senti não apenas a força de um pensamento filosófico, mas também o pulsar de uma consciência moral profundamente comprometida com a dignidade humana.

O que mais me impactou foi a clareza com que Camus se recusa a justificar a violência em nome de qualquer ideologia. Ele reconhece a necessidade da resistência contra a tirania, mas ao mesmo tempo insiste que a rebelião deve preservar a humanidade de quem resiste. Essa tensão entre lutar e não se corromper pelo mesmo mal que se combate me fez refletir intensamente sobre os limites da ação política e pessoal.

Os textos sobre a pena de …

En 1821, Johann Christian Woyzeck avait poignardé sa compagne. Souffrant d'hallucinations, "confondant de temps en …

Entre delírio e desespero – Minha leitura de Woyzeck de Georg Büchner

Ler Woyzeck foi como entrar em um pesadelo que não pertence apenas ao protagonista, mas à condição humana em sua forma mais frágil. A peça, inacabada e fragmentada, carrega uma força bruta que me atingiu de imediato. Büchner conta a história de Franz Woyzeck, um soldado simples, pobre, explorado por seus superiores e humilhado pela sociedade. Senti, a cada cena, o peso esmagador da miséria, do desprezo e da falta de escolhas.

O que mais me tocou foi a vulnerabilidade de Woyzeck. Ele é submetido a experiências médicas cruéis, vive em permanente tensão financeira e emocional, e se agarra a uma relação com Marie, que aos poucos se desfaz em traição e desilusão. Esse acúmulo de opressões cria nele um estado de delírio, uma mistura de paranoia e impotência. A tragédia final – o assassinato de Marie – não me pareceu apenas um ato individual, mas a consequência inevitável de …

Bertolt Brecht: The resistible rise of Arturo Ui (2001, Arcade Pub.)

O crime como farsa – Minha leitura de A Resistível Ascensão de Arturo Ui de Bertolt Brecht

Ler A Resistível Ascensão de Arturo Ui foi como assistir a um espelho distorcido da História, onde o riso se mistura com o desconforto. Bertolt Brecht cria uma parábola política em forma de peça teatral, ambientada no mundo dos gângsteres de Chicago, mas que claramente aponta para a ascensão de Adolf Hitler e do nazismo na Alemanha. Desde as primeiras cenas, percebi que não se tratava apenas de uma sátira, mas de uma denúncia: mostrar como a tirania pode crescer em terreno fértil de corrupção, medo e indiferença.

Arturo Ui, o protagonista, começa como um criminoso insignificante, quase ridículo. Aos poucos, por meio da violência, da manipulação e da exploração das fraquezas alheias, ele conquista poder. O que me impressionou foi como Brecht expõe esse processo não como inevitável, mas como resultado de escolhas e cumplicidades. O “resistível” do título é um lembrete doloroso: poderia ter sido evitado.

Enquanto lia, …

Ray Bradbury: The Day It Rained Forever (1992, Penguin Books Canada, Limited)

Quando o tempo se torna poesia – Minha leitura de O Dia em que Choveu para Sempre de Ray Bradbury

No rating

Ler O Dia em que Choveu para Sempre foi para mim como ouvir uma música lenta em uma tarde infinita. A coletânea de contos de Ray Bradbury reúne narrativas que oscilam entre o fantástico, o poético e o profundamente humano. Não são apenas histórias de ficção científica ou fantasia: são parábolas sobre a fragilidade do tempo, a solidão, a memória e os pequenos milagres escondidos na vida cotidiana.

O conto que dá nome ao livro me marcou de forma especial. Três homens solitários, em meio a um deserto árido, recebem a visita de uma mulher que parece trazer a promessa de eternidade. A chuva que cai não é apenas água, mas símbolo de renovação e transcendência. Eu senti, ao ler, como se Bradbury tivesse me lembrado de que a esperança pode brotar mesmo no terreno mais seco.

Em outros contos, encontrei essa mesma mistura de melancolia e encantamento. Bradbury tem …

reviewed Irish journal by Heinrich Böll (Marlboro travel)

Heinrich Böll: Irish journal (1998, Marlboro Press)

Heinrich Böll’s Irish Journal constitutes a work of reflective prose that transcends the conventions of …

Chuva, silêncio e humanidade – Minha travessia por Diário Irlandês de Heinrich Böll

Ler Diário Irlandês de Heinrich Böll foi como acompanhar alguém que caminha devagar, atento a cada detalhe, sem pressa de chegar a lugar nenhum. O livro não é um guia turístico nem um diário no sentido linear; é uma coleção de impressões, fragmentos que, juntos, constroem uma imagem densa e poética da Irlanda dos anos 1950.

O que mais me tocou foi a honestidade de Böll. Ele não romantiza a pobreza que encontra, tampouco transforma a dureza do cotidiano em espetáculo. Pelo contrário: mostra a precariedade, a emigração, a solidão de um povo que luta para sobreviver, mas também a dignidade, a fé e a hospitalidade que resistem em meio à escassez. Eu senti, ao ler, que a Irlanda que ele descreve não é um cenário, mas um organismo vivo – cheio de contradições, tristezas e pequenas alegrias.

Os detalhes simples são os que mais me ficaram: o cheiro do …